26. Zênite

[Se quiser, veja o início desta série lendo a parte 1. Aniversário]



Davi torcia as mãos, suando frio. Nunca sentira tanto nervosismo na vida. Olhou em volta, e logo se desejou ter continuado olhando para o chão: “Caramba”, ele pensou; “Deve tê umas duzentas pessoas me olhando, e eu aqui sozinho …”

Nessa hora a marcha nupcial soou pelo salão, e logo Claudineia apareceu, linda como sempre! Escoltada pelo Sr. João de um lado e Sr. José do outro, seu sorriso era contagiante. Cláudia, sentada na primeira fileira de bancos, aproveitou que todos olhavam para a noiva, e foi sussurrar no ouvido do noivo: “Ela tá linda, não tá?”

Ele respondeu com um sorriso, lutando para controlar as emoções. “Obrigado, Senhor”, ele orou em silêncio; “Obrigado!”

A cerimônia transcorreu tranquilamente, e quando todos estavam participando dos alimentos Sr. João se levantou, pegou o microfone e pediu a atenção de todos. “Gente, quero cinco minutinhos da sua atenção, por favor.”

Os convidados, alegres e atenciosos, prestaram atenção, e ele começou: “Seis meses atrás eu achava que esse dia seria impossível. Mas então Deus começou a agir na minha vida, e em menos de sessenta dias — dois meses — minha vida inteira mudou. Nesse curto espaço de tempo fui levado ao fundo do poço da tristeza, mas Deus teve misericórdia de mim, e hoje estou certamente no zênite da alegria.”

Ele parou, controlando as emoções, e Claudineia sussurrou para seu marido: “Bem, que que é ‘zênite’?”

“Não sei. Mas pela frase que ele falô, deve sê um ponto elevado, o contrário do fundo do poço”, ele respondeu.

“Naqueles dois meses”, Sr. João continuou, “Minha fé em Deus foi provada, e saiu fortalecida. Deus me mostrou o quão fraco eu sou, e o quão forte Ele é. Percebi que eu sou tolo, e Deus é eternamente sábio. Aprendi que às vezes Deus leva décadas para responder nossas orações, enquanto que em outras circunstâncias, a petição quase nem deixou nossos lábios e Ele já providencia uma resposta. Mas no final das contas, acabamos entendendo que, qualquer que seja o tempo que esperamos, Ele sempre respondeu na hora certa!”

Ele olhou para Claudineia, que segurava a mão do Davi de um lado, e a de Cláudia do outro. “Minha filha”, ele disse, “Quero pedir a vocês dois que lembrem de tudo que passamos nesses poucos meses desde que eu encontrei você. Lembrem como Deus permitiu que ficássemos sem chão, para que aprendêssemos a confiar mais nEle. Lembrem que Ele é o único guia infalível, a única Rocha que nunca falta. Confiem sempre nEle, nas grandes e nas pequenas decisões. E que Deus vos abençoe!”

Davi se levantou para abraçar seu sogro, mas Claudineia, como sempre, foi bem mais rápida. Sr. José e D. Maria também vierem abraçar o casal, e o fotógrafo aproveitou para pedir uma foto (“Ai, ai; mais uma!”, pensou Davi). Os noivos no centro, Sr. João e Sr. José do lado de Claudineia, e Cláudia e D. Maria do lado do Davi.

Essa foto ficou gravada na minha mente — uma família unida pelo amor de Deus. Tenho uma cópia dela que guardo até hoje, e olhando para ela agora, pensei em encerrar este pequeno relato (que, devido ao tamanho do alfabeto, ficou reduzido a vinte e seis capítulos) dizendo: “E viveram felizes para sempre!” Mas, pensando bem, lembro-me das muitas dificuldades e decepções que essa família enfrentou nos anos seguintes. Viveram a vida normal dos salvos, com doenças e tribulações, decepções e tristezas, dificuldades e traumas. Não foi um mar de rosas. Aliás, foi sim — estava cheio de espinhos! Realmente não me parece coerente usar este final de conto de fadas — “felizes para sempre”.

Mas pensando mais um pouco, lembro-me de como Deus tem acompanhado essa família em todas as dificuldades pelas quais passam, e como Ele tem sido o Amigo fiel em todas as lutas. Penso na alegria que vejo estampada no rosto deles todas as vezes que os encontro. Penso em como Deus permite que eles sofram, sim, mas nunca permite que o sofrimento seja em vão. A tempestade sempre passa, e o Sol sempre volta a brilhar. E a cada provação, a realidade da alegria deles aumenta!

Olho novamente para aquela foto. Sr. José e D. Maria com os rostos marcados pela vida difícil que tiveram, mas com os olhos reluzentes e alegres. Sr. João e Cláudia olhando um para o outro, e não para o fotógrafo, repartindo aquele momento (e eles merecem repartir tudo, depois de tanto tempo longe um do outro). E Davi e Claudineia sorrindo para o mundo, vivendo a consumação do seu sonho. Um momento congelado numa imagem.

Quando a foto foi tirada eles não sabiam o que viria pela frente nos próximos anos — mas estavam confiando num Deus que tudo sabe. E conhecendo a realidade prática da fé deles, e a preciosidade que é servir ao Deus vivo e verdadeiro, dou o braço a torcer. Eu estava errado. Realmente, eles viveram felizes para sempre!
[Final da série]

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